Imagem com casal numa cama numa relação sexual em que o elemento feminino consulta o telefone. Conceito de desinteresse sexual, ou ausência de Desejo Sexual

Quando o Apetite Sexual Diminui – Sexualidade Feminina

A diminuição do desejo é a queixa sexual mais comum entre as mulheres, sendo que diversos estudos estimam que entre 30 a 50% das mulheres possam sofrer desta condição.

Nos parágrafos seguintes, iremos tentar explicar quais os critérios que ajudam a diagnosticar a redução do desejo sexual feminino, quais as causas mais comuns desta condição, bem como explorar algumas das soluções farmacológicas e não farmacológicas para este desafio da saúde sexual da mulher.

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Definir Desejo Sexual

O Desejo Sexual pode ser definido como a motivação ou o interesse em ter relações sexuais.

Este conceito difere daquele de Atração Física, sendo que esta pode ser definida como o sentimento de atração por outra pessoa, suportado em características físicas. Assim, é normal algumas pessoas sentirem atração física por outra sem ter desejo sexual e vice-versa.

Importa de igual modo referir que este é um conceito subjetivo: para algumas pessoas, ter relações sexuais, por exemplo, uma a duas vezes por semana, é considerado pouco; para outras será o ideal; e ainda para outras será demasiado… Para além disso o desejo sexual pode mudar ao longo do tempo e é influenciado por diversos fatores: o estado de saúde; o estilo de vida; fatores psicológicos; etc.

Neste contexto, a diminuição ou ausência do desejo sexual é um tema relevante e com implicações significativas para a sociedade. Descrevem-se abaixo algumas circunstâncias da forma como esta condição pode potencialmente afectar os indivíduos e /ou os relacionamentos:

Relacionamentos

A diminuição do desejo sexual pode afetar negativamente os relacionamentos, especialmente se existir um desencontro no desejo sexual do casal (por exemplo quando um dos parceiros tem um desejo sexual menos intenso do que o outro).

Este tipo de circunstâncias, quando não são devidamente discutidas e /ou trabalhadas pelos membros do casal, podem levar ao aumento da tensão e do ressentimento, o que em última análise pode resultar em ruptura ou separação.

Saúde Mental

A falta de desejo sexual pode afetar a autoestima e a confiança do indivíduo, o que por sua vez pode estar na base do desenvolvimento de problemas de saúde mental, tais como a depressão e ou a ansiedade.

Qualidade de Vida

O sexo é uma componente importante da vida e pode contribuir para a satisfação pessoal e para o bem-estar geral.

A diminuição ou ausência de desejo sexual pode gerar um sentimento de vazio, de imcompletude, e nesse sentido contribuir para a diminuição da qualidade de vida do indivíduo.

Saúde Física

Alguns estudos sugerem que a actividade sexual regular traz também alguns benefícios à saúde física. Entre eles destacamos a redução de doenças cardíacas e a melhoria da função imunológica.

Imagem de um casal na cama, mostrando desinteresse da parte dela. Conceito de ausência de desejo.

Como saber se Sofre de Diminuição ou Ausência de Desejo Sexual?

Desde 2015, a nomenclatura Diminuição ou Ausência de Desejo Sexual foi abandonada e actualmente a condição clínica designa-se de Transtorno do Interesse e Excitação Sexual Feminino.

De acordo com as Guidelines mais recentes à data desta publicação, para o diagnóstico do  Transtorno do Interesse e Excitação Sexual Feminino deverão estar presentes pelo menos três dos seguintes critérios:

  • Redução ou ausência de interesse pela actividade sexual;
  • Redução ou ausência de pensamentos e fantasias sexuais/ eróticas;
  • Nenhuma iniciativa ou iniciativa reduzida de actividade sexual e /ou baixa receptividade às tentativas realizadas pelo parceiro;
  • Redução ou ausência de excitação /prazer sexual em quase todos ou em todos os encontros sexuais;
  • Redução ou ausência de resposta a quaisquer indicações sexuais ou eróticas (escritas, verbais, visuais);
  • Redução ou ausência de sensações genitais ou não genitais durante a actividade sexual;

Para a validação do diagnóstico, os critérios devem persistir por um período mínimo de 6 meses e não ser explicados por outra condição (transtorno mental não sexual, violência do parceiro, condição médica ou substância/ medicamento)

Tão importante como conhecer os critérios de classificação da condição, é também identificar as causas na sua origem, que exploraremos no tópico seguinte.

imagem de uma caixa para guardar medicamentos, alusiva a uma das causas possíveis para a diminuição do desejo sexual: a utilização de medicação

Causas Frequentemente Associadas à Diminuição da Líbido Feminina?

A flutuação do desejo sexual ao longo da vida é normal e saudável. A diminuição da líbido deve ser diagnosticada por especialista competente, podendo ficar a dever-se a um conjunto diverso de factores, entre os quais:

Alterações Hormonais

Os efeitos das hormonas sobre a libido estão bem documentados e sem entrar em grande detalhe, referem-se algumas das hormonas que mais contribuem para a regulação do desejo sexual: os Estrogéneos, a Progesterona, a Desidroepiandrosterona ou DHEA, a “Sex Hormone-Binding Globulin” ou SHBG, a Prolactina, os as Hormonas Tiroideias;

Medicação

Diversos medicamentos podem afectar o desejo sexual. Entre eles, destacam-se os Anti-depressivos, os Antipsicóticos, os Beta-bloqueadores, os Anti-histamínicos, os Inibidores da Aromatase, etc. Também no que respeita aos contraceptivos, embora não seja totalmente clara a relação entre a diminuição da líbido e a utilização de contraceptivos orais, alguns estudos apontam nesse sentido;

Depressão e Ansiedade

A condição mental pode afectar de forma determinante a disponibilidade e o desejo do indivíduo.

Menopausa, Gravidez e Amamentação

Cirurgias Prévias

Histerectomia, Remoção dos ovários, etc.

Dor Genito-pélvica

Incontinência

Aqui colocam-se não só questões relacionadas com a autoestima e ansiedade, mas também algum eventual constrangimento face ao acto sexual.

Prolapso de órgãos pélvicos

Cancro

Doenças Neurológicas

Factores Interpessoais

A este respeito destacamos a existência de conflitos entre o casal, ausência de estimulação adequada, disfunção sexual do parceiro, diminuição de atracção pelo parceiro, aborrecimento sexual, problemas de comunicação sobre sexualidade, infidelidade e ou infertilidade.

Fadiga e Stress

O cansaço, o excesso de stress e ou o esgotamento são factores que contribuem para a ausência ou diminuição do desejo sexual.

Ausência de bem-estar físico e emocional

Sedentarismo

Factores de desenvolvimento

Ausência de educação ou permissão sexual, infância e adolescência marcadas por privações afectivas, emocionais ou traumas.

Factores Socioculturais

Questões morais ou crenças religiosas.

Factores contextuais

Questões relacionadas com privacidade, segurança e conforto.

Imagem sugestiva com mulher conceito prazer

Qual o Tratamento para a Diminuição do Desejo Sexual?

Da mesma forma que na origem da diminuição do desejo sexual podem existir várias causas, também no que respeita ao seu tratamento podemos encontrar diversas abordagens.

De acordo com a experiência clínica da Dra. Mafalda Cruz , a combinação de tratamentos é habitualmente a intervenção que revela um maior grau de eficácia.

Antes de iniciar qualquer abordagem terapêutica, poderá ser necessário realizar exames ou análises específicas (por exemplo doseamento hormonal), que servirá para despistar ou diagnosticar eventuais causas orgânicas ou quaisquer problemas médicos.

Quanto ao tratamento, este pode dividir-se em Farmacológico ou Não Farmacológico:

Tratamento Não Farmacológico para a Diminuição da Libido

É uma abordagem que não recorre a medicamentos, focado-se na resolução ou no equilíbrio de aspectos psicossociais, mentais e físicos que podem estar na origem da condição ou que podem contribuir para melhorar a ausência de desejo sexual. Listam-se abaixo algumas das intervenções mais comuns nesta modalidade terapêutica:

  • Redução do Stress e Fadiga;
  • Gestão de problemas na relação;
  • Resolução de problemas de comunicação na relação;
  • Estabelecimento de um plano equilibrado de actividade física;
  • Psicoterapia (Intervenção Psicoterapêutica);
  • Terapia Sexual;
  • Terapia de Casal;
  • Promoção de hábitos de vida saudáveis;
  • Estabelecimento de uma agenda para a relação sexual;
  • Explorar novas experiências e fantasias;
  • Resolução de desafios relacionados com a lubrificação ou secura vaginal;
  • Reabilitação Pélvica;
  • Realização de actividades como Yoga ou outras técnicas Mindfullness;
  • Biblioterapia (utilização da leitura como técnica para melhorar a saúde mental);
  • Dispositivo de Terapia Clitoriana Eros-CTD®

Tratamento Farmacológico para a Diminuição da Líbido

Nesta âmbito referem-se tratamentos com evidência científica reduzida, ou em alguns casos sem evidência, que tiram partido dos efeitos clínicos de alguns medicamentos para o tratamento da diminuição e do desejo sexual.

Será sempre necessário ajustar ao contexto clínico individual e não dispensam a consulta de médico assistente. Alguns dos medicamentos usados neste âmbito incluem: Testosterona,  Prasterona, Estrogénio Tópico, Bupropiona, Flibanserina, Bremelanotida, O-Shot®.

Em Súmula

Existem várias razões que motivam a ausência de desejo sexual. Para mitigar a condição é fundamental identificar o ou os motivos na sua origem, discutindo o assunto com um profissional de saúde, de forma a obter um diagnóstico assertivo.

Nesta equação é importante manter um diálogo aberto e franco com o seu parceiro. Um diálogo centrado na compreensão e na disponibilidade para explorar novos caminhos que possam contribuir para o bem-estar da relação. Mantenha um estilo de vida saudável e pratique exercício físico (ajustado à sua condição).

Finalmente, tenha em mente que a ausência ou diminuição do desejo sexual é um desafio comum e que existe ajuda disponível. Se está preocupada ou insatisfeita com a sua vida sexual, não hesite em procurar ajuda de um profissional de saúde.

Artigo da autoria de Mafalda Cruz, Médica e Sexóloga da Clínica Médica do Porto. Clique para obter mais informação sobre a consulta de Medicina Sexual.

Dúvidas ou questões?

A leitura do presente artigo não dispensa em caso algum a visita ao seu médico assistente, nem substitui a sua opinião. Cada caso deverá ser analisado numa óptica individual e personalizada, com base no historial da paciente.
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