Imagem de mulher grávida numa pista de atletismo a correr

Exercício Seguro na Gravidez: O Caso Especial da Corrida

Se por um lado é seguro afirmar que a prática desportiva moderada é benéfica na maioria das situações, tal não equivale a dizer que qualquer actividade física seja adequada a todos os tipos de condições clínicas.

Continuando a desenvolver um artigo prévio, no qual exploramos os benefícios (e riscos) da actividade física durante a gravidez, (pode ler aqui mais sobre a actividade física durante a gravidez) para a redação do presente artigo solicitamos à Terapeuta Flávia Salé, especialista em Reabilitação Pélvica e Uro-ginecológica, que abordasse o tema específico da corrida enquanto prática desportiva durante e após a gestação.

Se preferir pode clicar no leitor abaixo para escutar a versão audio deste artigo:

 

Desporto na Gravidez

As adaptações anatómicas e fisiológicas sofridas pelo corpo durante a gravidez, devem mediar a escolha do tipo de actividade física a realizar durante este período sensível da vida da mulher.

Duas das alterações mais significativas a considerar neste âmbito são: (1) o aumento de peso e (2) a alteração do centro de gravidade do corpo da mãe. Combinadas, estas modificações colocam uma enorme pressão nas articulações e na coluna da mãe. Precisamente por esse motivo, recomenda-se nesta fase o fortalecimento dos músculos abdominais e da coluna, procurando dessa forma minimizar eventuais riscos.

Os benefícios do exercício físico durante a gravidez (tanto para a mãe como para o bebé) estão bem documentados. A este propósito, transcrevemos algumas das recomendações emanadas pelo Colégio Norte-Americano de Ginecologia e Obstetrícia:

a actividade física durante a gravidez é benéfica para maioria das mulheres, pese embora possa existir a necessidade de fazer algum ajustamento no tipo ou intensidade da actividade, para acomodar as alterações fisiológicas que ocorrem nesta fase;

…a recomendação de exercício físico específico deverá ser realizado após uma análise médica da condição clínica da grávida;

as mulheres grávidas sem condições clínicas limitantes devem ser encorajadas à prática de exercício clínico aeróbico, bem como de reforço muscular, antes, durante e depois do parto;

(o link para o site com o texto completo encontra-se no final do artigo)

Imagem de duas mulheres a correr ou fazer jogging de costas

A Corrida Enquanto Prática Desportiva da Grávida

A corrida é uma modalidade física popular e com enormes benefícios cardiovasculares. Além disso é certamente uma actividade muito gratificante para muitas das suas (e seus) praticantes. Somente estas duas considerações seriam o bastante para o incentivo à sua prática, porém, como desporto de elevado impacto, este é muito exigente para o corpo e respectivas articulações, colocando um enorme stress sobre todas as estruturas envolvidas.

Efectivamente, exercícios tais como saltos ou movimentos bruscos, aparecem associados a um aumento súbito da pressão intra-abdominal. Tal significa que este tipo de actividade coloca uma enorme pressão sobre o pavimento pélvico (conjunto de orgãos e tecidos que suportam os orgãos pélvicos e que desempenham um papel determinante na gravidez).

Mesmo em velocidades moderadas (11km/h), as forças de reação ao solo atingem cerca de 2,5x o peso corporal. Se considerarmos que a probabilidade de ocorrência de disfunção pélvica (de que são exemplos a incontinência urinária e /ou fecal, dor ou desconforto pélvico, diástase abdominal, entre outros), é 4,5x vezes maior nos exercícios de alto impacto, quando se compara este com um regime de actividade física composta por exercícios de baixo impacto, facilmente se entende o motivo pelo qual a corrida possa ser um desporto de alto risco na fase da gestação.

Embora possa ser praticada de forma segura, é importante conhecer os riscos associados à corrida durante a gravidez, especialmente se não forem tomadas as devidas precauções:

os impactos repetidos podem causar não apenas desconforto no pavimento pélvico, mas aumentam o risco de disfunções para a mãe, com possíveis implicações também para o bebé.

Cada caso é único e apenas a própria, com o apoio da sua equipa clínica, poderá avaliar a sua circunstância individual. No entanto, salvo indicação clínica contrária, a prudência deve ser a pedra basilar das decisões tomadas a este nível, e existem outras atividades físicas mais seguras, especialmente à medida que a gravidez avança.

Optar pela corrida exige portanto avaliações regulares com atenção redobrada às mudanças no corpo e à capacidade física da mulher grávida. Este tipo de acompanhamento oferece o suporte necessário para uma gravidez saudável e tranquila, garantindo que a saúde da mãe e a do bebé estão sempre em primeiro lugar.

Saiba mais sobre a consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico e ainda sobre a Consulta de Ginecologia da Clínica Médica do Porto clicando nos respectivos links.

Imagem de Mulher a correr subindo umas escadas.

A Corrida no Pós Parto: Riscos e Contra-Indicações

Factores de Risco

Também o regresso à corrida depois da gravidez exige cuidados adicionais. Particularmente nos três primeiros meses após o parto, o foco deve estar centrado em exercícios de baixo impacto. Apenas findo este período e se não existirem indícios de disfunção pélvica, se recomenda a re-introdução da corrida, de forma gradual, e se possível com acompanhamento especializado.

No regresso à actividade física de alto impacto no pós parto devem ser considerados os seguintes factores:

  • Condições de Hipermobilidade Pré-existentes;
  • Amamentação;
  • Disfunção do Pavimento Pélvico (que entretanto possa ter sido contraída durante a gravidez ou o parto);
  • Disfunção Lombopélvica;
  • Condição de Instabilidade Psicológica;
  • Obesidade;
  • Cesariana ou Cicatriz Perineal;
  • Deficiência Energética;

Sinais de Alerta (Quando não deve voltar a correr)

Listamos abaixo alguns sinais de alerta para disfunções pélvicas frequentes no pós parto, correspondendo a um conjunto de indicadores de que não deverá voltar tão cedo à corrida:

  • Sensação de Peso na Região Pélvica (pode estar associado a prolapso);
  • Perdas de Urina;
  • Descontrolo de Movimentos Intestinais;
  • Abdómen Pendular ou existência de uma lacuna percetível ao longo da linha média da parede abdominal. (Isto pode indicar Diástase Reto Abdominal);
  • Dor Pélvica ou Lombar;
  • Perda de Sangue (contínua ou aumentada para além das 8 semanas após o parto que não está ligada a o seu ciclo mensal);

Contra-Indicações

Finalmente a corrida está contra-indicada nas seguintes circunstâncias:

  • Incontinência urinária ou fecal antes ou durante o início da corrida;
  • Pressão vaginal antes ou durante o início da corrida;
  • Sangramento vaginal contínuo ou inicial, não relacionado ao ciclo menstrual, durante ou após o exercício de baixo ou alto impacto
  • Dor musculoesquelética, por ex. dor pélvica antes ou durante o início da corrida

Na presença de qualquer uma das circunstâncias acima, o retorno ao regime de exercício físico envolvendo corrida ou atletismo, mesmo volvidos 3 meses após o parto, deve ser cuidadosamente ponderado e de preferência somente após avaliação exaustiva e autorização clínica.

Considerando o impacto da gravidez e do parto nas estruturas anatómicas, a avaliação da saúde pélvica com um fisioterapeuta especialista é fundamental para avaliar a força, função e coordenação dos músculos abdominais e do soalho pélvico, antes de reiniciar a prática desportiva.

Resumo

Quer em mulheres grávidas ou em qualquer outro indivíduo, a prática desportiva é benéfica, especialmente se e quando praticada com moderação e de acordo com as orientações médicas.

Já os desportos que envolvem exercícios de alto impacto, tal como a corrida, devem ser evitados para não sobrecarregar o pavimento pélvico.

Embora não recomendável na maioria dos casos, a corrida durante a gravidez é possível, desde que com as devidas precauções e sob a orientação de profissionais de saúde. O fortalecimento do pavimento pélvico, realizado quer preventivamente na fase de pré-parto ou pro-activamente no pós-parto, é uma abordagem crucial para evitar disfunções pélvicas durante e após a gravidez.

Para garantir a saúde e segurança da mãe e do bebé, consulte o seu médico ou profissional de saúde antes de iniciar (ou continuar) qualquer programa de exercícios físicos durante a gravidez.

Clique no link para saber mais sobre a Consulta Reabilitação do Pavimento Pélvico.

Data de Publicação: 01/2024

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