Cuidados Pélvicos Essenciais no Pós Parto
O período pós-parto é uma fase crucial na vida de uma mulher. Esta fase tão delicada e especial carece de cuidados específicos (e redobrados), considerados essenciais para promover a saúde e bem-estar a longo prazo.
Entre os muitos aspectos importantes da saúde pós-parto, a reabilitação do pavimento pélvico emerge como um tema de grande importância.
Neste artigo, exploraremos as alterações do pavimento pélvico durante a gravidez, os sinais e sintomas de disfunção pélvica, algumas das possíveis causas dessas alterações, a influência do tipo de parto e ainda estratégias de prevenção e manutenção do pavimento pélvico para promover a salubridade de todas as estruturas pélvicas.
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Alterações do Pavimento Pélvico Durante a Gravidez
Durante a gravidez, o corpo da mulher passa por diversas mudanças fisiológicas que incluem não só alterações físicas e estruturais para acomodar o crescimento do feto, mas também hormonais.
Uma das alterações mais proeminentes é o aumento de tamanho (e peso) do útero. Este orgão, normalmente com o tamanho de uma pêra, expande-se nesta fase para acomodar o desenvolvimento do bebé provocando um aumento significativo da pressão que é exercida sobre os órgãos pélvicos, nomeadamente sobre a bexiga, o reto e os restantes músculos e estruturas do pavimento pélvico.
Ocorre por outro lado um incremento da concentração de hormonas tais como a relaxina, a progesterona e o estrogénio, que para além de outros efeitos, têm por objetivo tornar os ligamentos e os tecidos mais flexíveis. Este relaxamento, indispensável na preparação do corpo para o parto, pode porém afetar a estabilidade e o suporte dos músculos do pavimento pélvico, tornando-os mais suscetíveis a lesões e disfunções.
Como resultado de todas estas alterações, o pavimento pélvico, composto pelo grupo de músculos, ligamentos e tecidos que sustentam os órgãos pélvicos, é frequentemente afetado. O aumento do volume do útero, conjugado com o crescimento do bebé, que vai progressivamente ocupando mais espaço à medida que se desenvolve e o progressivo relaxamento tecidular justificam a necessidade de uma monitorização mais atenta da funcionalidade e estado de todas estas estruturas.
CAUSAS HORMONAIS:
O aumento da progesterona provoca:
- Diminuição da actividade muscular lisa/involuntária (músculo uterino, detrusor/da bexiga, uretra, intestino e vasos sanguíneos);
- Aumento da temperatura corporal;
- Redução da tensão alveolar e arterial (hiperventilação);
O aumento da relaxina provoca:
- Aumento da fraqueza ligamentar com aumento da mobilidade articular, essencialmente da região pélvica e colo uterino;
- Relaxamento dos músculos do pavimento pélvico, com consequentes reacções adaptativas diminuídas;
O aumento de estrogénios provoca:
- Aumento da vascularização dos tecidos e retenção de líquidos;
- Aumento da produção de glicogénio vaginal (resulta em corrimento);
- Crescimento uterino (alteração do posicionamento) e ductos mamários;
CAUSAS MECÂNICAS
A Elevação do diafragma provoca:
- Respiração de predominância costal inferior e superior; Dispneia e hiperventilação (aumento do volume respiratório por minuto);
- Dor na caixa torácica e dorsal;
O crescimento uterino e do tecido mamário provoca:
- Alteração do centro de massa (aumento da lordose lombar, cifose dorsal) com sobrecarga muscular paravertebral e coxofemoral essencialmente;
- Dificuldade no recrutamento dos músculos
- Alterações na marcha e equilíbrio (alargamento da base de sustentação)
Sinais e Sintomas de Disfunção do Pavimento Pélvico
As alterações pélvicas podem manifestar-se de diversas formas, listando-se abaixo os sintomas e disfunções mais comuns na fase da gravidez:
Incontinência Urinária
A pressão aumentada sobre a bexiga pode levar a perdas involuntárias de urina, situação medicamente designada de incontinência urinária de esforço. Neste caso, a perda de urina pode ocorrer de forma espontânea durante atividades tais como tossir, espirrar ou ao realizar exercício.
Dor Pélvica
Este desconforto (ou dor) na região pélvica pode ocorrer devido ao estiramento muscular e /ou ligamentar motivado pela pressão exercida sobre os músculos e ligamentos do pavimento pélvico.
Prolapso
O enfraquecimento dos músculos e ligamentos do pavimento pélvico (que explicamos acima) pode resultar num prolapso dos órgãos pélvicos.Nesta circunstância, um ou mais órgãos pélvicos (como a bexiga, útero ou reto) descem para a vagina, causando uma sensação de pressão ou protuberância.
Prisão de Ventre
As alterações hormonais e mesmo a pressão sobre o reto podem levar à prisão de ventre durante a gravidez.
Disfunção Sexual
As alterações nos níveis hormonais, a existência de dor pélvica e eventuais preocupações podem contribuir para disfunções sexuais. Não é por isso invulgar a grávida sentir uma diminuição da libido, desconforto durante a relação sexual ou mesmo dificuldade em atingir o orgasmo.
Os sintomas elencados acima podem ser debilitantes e afetar significativamente a qualidade de vida da mulher grávida. É importante estar consciente dos sinais e procurar ajuda profissional quando necessário.
Influência do Tipo de Parto nas Alterações do Pavimento Pélvico
Tal como vimos anteriormente, as alterações no pavimento pélvico durante a gravidez podem ser atribuídas a fatores hormonais e /ou mecânicos: As alterações hormonais podem afetar a elasticidade dos tecidos pélvicos, enquanto as mudanças mecânicas resultantes do crescimento do útero e do aumento da pressão exercida pelo feto podem enfraquecer os músculos do pavimento pélvico.
Nesta dinâmica, o tipo de parto condiciona as alterações sofridas pelo conjunto de estruturas pélvicas. A este nível confrontamos o parto natural com o parto por cesariana.
Durante o parto vaginal, os músculos do pavimento pélvico são submetidos a um esforço significativo na medida em que relaxam e esticam para permitir a passagem do bebé pelo canal de parto. Tal como abordamos anteriormente, o processo pode resultar em estiramento excessivo dos músculos e ligamentos, levando à fraqueza muscular e eventual disfunção pélvica no pós parto. Durante o parto vaginal, podem ocorrer ainda lesões e /ou lacerações nos músculos pélvicos, o que aumenta o risco de desenvolvimento de patologia pélvica.
O parto por cesariana é menos exigente para a integridade destas estruturas. Neste caso, os músculos do pavimento pélvico são menos afetados do que no parto vaginal, uma vez que o bebé é retirado através de uma incisão abdominal.
É importante notar que esta pressão exercida de forma prolongada sobre as estruturas pélvicas, quer pelo útero e pelo bebé em crescimento, pode contribuir para o desenvolvimento de disfunção pélvica, mesmo nas situações em que o parto ocorre por cesariana.
Leitura Recomendada
Artigo Incontinência Urinária e Perdas de Urina: Causas, Sintomas, Tratamento e Prevenção
Artigo: Intervenção da Fisioterapia Uro-Ginecológica no Pós Parto
Artigo: Cupping (ou Terapia com Ventosas), Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa
Artigo: Quando o Apetite Sexual Diminui – Sexualidade Feminina
Estratégias de Prevenção de Disfunção do Pavimento Pélvico
Manter o pavimento pélvico saudável e em boas condições, quer durante a gravidez mas também depois desta fase, é não só possível como desejável. Para isso é fundamental adotar algumas estratégias adequadas – neste capítulo vamos partilhar consigo algumas das mais importantes.
Exercícios Específicos para o Pavimento Pélvico
Exercícios de Kegel
Os exercícios de Kegel consistem na contração e relaxamento dos músculos do pavimento pélvico. Estes exercícios fortalecem os músculos que suportam os órgãos pélvicos, ajudando a prevenir eventuais disfunções.
Alongamentos do Pavimento Pélvico
Exercícios de alongamento pélvico podem ajudar a relaxar os músculos que compõem estas estruturas, aliviando a tensão e promovendo uma melhor circulação sanguínea na região.
Pilates
Os exercícios de Pilates podem ser adaptados para fortalecer os músculos do pavimento pélvico, além de melhorar a postura e a estabilidade estrutural da grávida.
Respiração Diafragmática
A respiração diafragmática ajuda a fortalecer os músculos do pavimento pélvico. De forma indireta, este tipo de respiração promove a ativação dos músculos abdominais profundos e do diafragma, que por sua vez estão interligados com os músculos do pavimento pélvico.
Massagem Perineal
A massagem perineal é uma técnica recomendada para preparar o períneo para o parto vaginal e ajudar desse modo a reduzir o risco de lacerações durante o parto.
Nota Sobre a Massagem Perineal
O períneo é a área localizada entre a vagina e o anus. Durante o parto vaginal estes tecidos são sujeitos a uma enorme pressão, sendo mais susceptíveis ao surgimento de lesões por esforço.
Do ponto de vista científico, diversos estudos têm investigado os benefícios da massagem perineal durante a gravidez:
Redução de Lacerações Perineais:
A prática da massagem perineal durante as últimas semanas de gravidez pode reduzir o risco de lacerações perineais graves durante o parto vaginal, especialmente quando se trata do primeiro filho.
Aumento da Elasticidade do Períneo:
A massagem perineal tem sido associada a um aumento da elasticidade e extensibilidade dos tecidos. Essa elasticidade aumentada pode facilitar a passagem do bebé (durante o parto vaginal), reduzindo assim a necessidade de intervenções médicas, tais como a episiotomia (corte cirúrgico do períneo para ampliar o canal de parto) e /ou a instrumentalização (uso de fórceps ou vácuo).
Melhoria do Conforto no Pós-Parto:
As mulheres que praticaram massagem perineal relataram uma melhor recuperação pós-parto em termos de dor e desconforto perineal.
Embora a Massagem Perineal possa trazer benefícios significativos, é importante que seja realizada corretamente e com orientação adequada. Recomenda-se começar a massagem por volta das 34 semanas de gestação e praticá-la regularmente (mas não intensivamente) até o parto. Um fisioterapeuta especializado em saúde pélvica, pode fornecer indicações acerca da regularidade ideal em cada caso, bem como instruções específicas sobre como realizar a massagem de forma segura e eficaz.
Cuidados durante a gravidez
Postura
Posturas adequadas contribuem positivamente para reduzir a pressão sobre o pavimento pélvico e prevenir a sobrecarga nos músculos e ligamentos pélvicos.
Peso
O peso é um factor de risco para o pavimento pélvico. Embora o ganho de peso seja normal na gestação, um peso excessivo contribui para o enfraquecimento dos músculos e ligamentos e aumentando o risco de disfunção pélvica.
Exercício
Manter um programa de actividade física regular, idealmente sob a orientação de um profissional de saúde, pode ajudar a fortalecer os músculos do pavimento pélvico e melhorar a circulação sanguínea na região pélvica.
Fisioterapia Pélvica
Em casos de patologia pélvica, como a incontinência urinária ou o prolapso dos órgãos pélvicos, ou mesmo somente numa vertente preventiva, a fisioterapia pélvica pode oferecer tratamentos específicos como biofeedback, a estimulação elétrica ou massagem perineal. Este tipo de estratégias ajudam a aliviar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida.
Orientações Pós-Parto
Após o parto, é crucial continuar a cuidar do pavimento pélvico para promover uma recuperação adequada e prevenir complicações futuras. Recomenda-se iniciar os exercícios pós-parto assim que possível, idealmente sob a orientação de um profissional de saúde.
Mediante as alterações exibidas pela puérpera, as orientações são diferentes. Nesse sentido, é indicado fazer uma avaliação com um profissional especializado entre a segunda e a sexta semana do pós parto.
A presença de diástase abdominal, fraqueza muscular abdominal bem como do pavimento pélvico, dor pélvica ou lombar, dor no cóxis ou na sínfise púbica, alterações posturais, edema, dor na cicatriz (cesariana/episiotomia), dor perineal e ou durante a relação sexual, obstipação, mastodinia, incontinência urinária e/ou fecal são problemas comuns, mas passíveis de tratamento.
Além disso, é importante seguir algumas orientações básicas de cuidados pós-parto, por exemplo evitar esforços excessivos, (a utilização de cinta estabilizadora pode ser recomendada por especialista), manter uma alimentação cuidada e uma boa higienização de toda a área genital e pélvica, procurando ajuda médica se surgirem quaisquer complicações.
Considerações Finais
A reabilitação do pavimento pélvico no pós-parto é um aspecto essencial da saúde da mulher, que muitas vezes é subestimado. Ao reconhecer as alterações do pavimento pélvico durante a gravidez, os sinais e sintomas de disfunção pélvica, as causas que motivam essas alterações e as estratégias de prevenção e manutenção, a mulher, grávida ou parturiente pode tomar medidas proactivas para promover a sua saúde pélvica e o seu bem-estar geral.
Com cuidados adequados e orientação profissional, é possível alcançar e manter um pavimento pélvico saudável, proporcionando uma melhor qualidade de vida antes, durante e depois do parto.
O presente artigo foi redigido com o apoio da Osteopata e Fisioterapeuta Pélvica, Flávia Salé (TDT C-032665075 OF 7054). Clique no link para saber mais informações acerca da Consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico.
Referências Bibliográficas
Prevalência da Incontinência Urinária no Pós Parto
Efectividade da Fisioterapia em Mulheres Com Incontinência Urinária no Pós Parto
Disfunções do pavimento pélvico durante o primeiro ano após o parto: uma revisão integrativa da literatura
Photo by Cassie Fontenot, Image by jcomp on Freepik, Image by pch.vector on Freepik
Data de Publicação: 04/2024
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